Semente Adulterada
O primeiro encontro com a criança interior, realizado em 4 de maio de 1998. Ele fala por si.
Foto do poema, originalmente grafado em algum caderno.
Semente Adulterada
Eu lhe às vezes desejo voltar ao passado
quando eu era doce e o mundo já tão amargo
Choro sempre com as lembranças que trago
Desde muito cedo carrego esse fardo.
Lembro daqueles que fizeram dessa época
a adulterada semente dos meus dias
aqueles que levaram de mim as alegrias
que o tempo jamais permitirá réplica
O pesar é uma companheiro precoce
do meu espontâneo precoce isolamento
Foi o primeiro e mais cru sentimeto
que uma vez sentido o coração nunca esquece
Começa sempre pelo pesar a lembrança
Eu memorizei forçosamente cada detalhe
Minha alma é obra de entalhe
de minhas mágoas de infância
Se nesse tempo eu desembarcasse já crescida
confortaria em meus braços essa criança
Que regou com lágrimas a árvore da esperança
seu único abrigo em toda a vida
Eu lhe secaria o pranto dos olhos tristes
Afagaria suavemente seus cabelos
Daria calor materno a seu corpinho trêmulo
Plantaria em seu coração uma paz celeste
Lhe estenderia a mão num gesto conivente
E juntas caminharíamos por seus pesadelos
Eu daria confiança em seus sonhos tão belos
e amiga proteção à sua alma inocente
Eu a faria contente só para ter na memória
o sabor verídico da felicidade
e sentir do passado uma terna saudade
para poder expressar também alguma glória



