Ordem: A Voz Interna de Uma Adolescente Autista em Busca de Autocontrole e Paz
A profunda luta de uma adolescente autista de 14 anos por controle emocional e aceitação
Foto: Making of do clipoema )cupação
Ordem- Versão 2025
Cala-te fera de minhas entranhas
Que estas lamúrias sejam as últimas
Cansei-me de ouvir tuas lástimas
Não serei mais vítima de tuas artimanhas
Não tome as rédeas do meu pensamentos
Pois a consequente luta será árdua e feroz
Silencie para sempre a tua ostensiva voz
Pois ela evoca só amargura e sofrimento
Minha alma é território fértil já liberto
Onde perturba a paz o teu mal desperto
Que embriaga o espirito e silencia a carne
Silencia, pois não tenho razão de evitar-te
Meu pensamento é livre para ir a toda parte
Desde que da tua ira maldosa me desarme.
Outro decassílabo, e este composto na idade exata de 14 anos. Lembro-me do lugar e da forma itinerante de escrevê-lo aos poucos, enquanto cuidava dos meus afazeres domésticos na casa da família Peixoto. Casa esta que foi um oásis de tranquilidade em minha adolescência turbulenta. Contudo, a luta com meu narrador interno e meu processamento (retardado e constante) manifesta-se nesta ordem.
Ruminar os fatos e as múltiplas hipóteses de desfecho é algo desgastante e conflituoso, especialmente quando a percepção aguçada dos fatos nos mostra um mundo despido de convenções e vernizes sociais.
Quero crer que essa ruminação, sem o correto direcionamento, é altamente destrutiva. Contudo, ao buscar silenciá-la para caber no mundo desde muito cedo — desde o sonho, aos 5 anos, que deu origem a Scarlet Moon — também silenciei muitos potenciais e atrasei meu próprio desenvolvimento.
Ou não. Talvez as coisas aconteçam no tempo certo e tudo esteja como deveria estar. Creio que meu olhar se tornou, de fato, muito mais gentil depois de meu diagnóstico, e só isso torna possível trazer essa ordem à luz. Quando o poema foi mostrado a um professor de língua portuguesa por volta dos meus 20 anos, ele apontou uma contradição que sempre cismei estar relacionada a uma única palavra: "persuasiva" foi substituída por "ostensiva", que imprime mais agressividade e impertinência a essa voz interna. Mas creio que ele se referia à última estrofe. Deixarei aqui ambas as versões para sua apreciação, apesar da pouca diferença.
E não, não creio que haja contradição. Meu pensamento sempre foi livre, mesmo quando eu não era. E essa voz é minha. É parte de quem sou. Sempre será. Ela não pode, de fato, ser silenciada, mas direcionada e educada para o bem maior.
Ordem- Versão Original
Cala-te fera de minhas entranhas
Que estas lamúrias sejam as últimas
Cansei-me de ouvir tuas lástimas
Não serei mais vítima de tuas artimanhas
Não tome as rédeas do meu pensamentos
Pois a consequente luta será árdua e feroz
Silencie para sempre a tua persuasiva voz
Pois ela evoca só amargura e sofrimento
Minha alma é território fértil já liberto
Onde perturba a paz o teu mal desperto
Que embriaga o espirito e silencia a carne
Silencia, pois não tenho razão de evitar-te
Meu pensamento é livre para ir a toda parte
Desde que da tua ira maldosa me desarme. 


