Mágoa: Um Olhar Essencial Sobre Empatia e Responsabilidade e Convenções Sociais
Conheca o soneto 'Mágoa', escrito aos 14 anos, e sua profunda reflexão sobre a incompreensão da dor e a falta de empatia. Uma jornada Poética que Reverbera em Breve Elegia
Aos 14 anos, na avenida Pres. Arthur Bernardes da Silva, em Curitiba, 1993.
Mágoa Lembra-te apenas daquelas lágrimas, aquelas tantas sufocadas, adormecidas, aquelas que eram irrefutáveis estigmas de minhas dores sempre tão reprimidas. As contaste para conheceres as mágoas, as que me fazem perder-me quase louca? Acaso provaste do fel daquelas águas que vinham incontrariáveis à minha boca? Como podes compreender, se nem sabes quanta dor num coração humano cabe e quanto podem amor e doçura resistir? Sabes apenas do amor que conheces e da tua amarga dor que não esqueces. As minhas dores não julgues sentir.
Quando a Dor Encontra a Incompreensão
Ao revisitar o soneto "Mágoa", percebo uma ressonância profunda com outro poema meu, "Breve Elegia". Ambos versam sobre a pouca empatia que muitas vezes encontrei diante do meu sofrimento. Certamente, para mim também não é fácil me aprofundar na dor do outro, mas me esforço para isso.
Não lembro quem era meu interlocutor ao qual dirigi este poema. Talvez fosse Hanna, minha patroa árabe, que me chamava de "sharmuta" sempre que se referia a mim em sua língua nativa. Ou talvez quaisquer outros que tivessem me afrontado com o que parece ser uma convenção social, frases como: "Imagine, fulano não quis dizer isso. Você que entendeu errado", ou "Ah, isso não foi nada. Você é que é muito sensível. Há que endurecer!", ou ainda, "Imagine, fulano é um doce de pessoa; ele jamais diria isso".
Lembro-me de situações mais recentes em que meus sentimentos e minha percepção eram desacreditados para justificar o comportamento alheio. O que eu percebia nessa forma de reagir às minhas queixas ou relatos era que as pessoas se colocavam a favor do perpetrador, mesmo sem testemunhar os fatos, defendendo a outra parte. Mais tarde, compreendi que as pessoas se esquivam da responsabilidade. Elas perguntam "como vai?", e quando você responde e entra na questão, elas não querem a responsabilidade por como você vai se sentir dali por diante, então não acolhem sua dor. E o fazem amainando o "outro lado da questão".
"Breve Elegia" é certamente sobre isso, mas de uma forma mais poética, concisa e abrangente. Aos 14 anos, eu tentava dialogar com o mundo e falava diretamente. Sem resposta, claro.



