Lágrimas
Uma jornada poética através do tempo em uma análise comparativa profunda sobre a dor, a contenção emocional e o anseio por libertação por meio do pranto
Um sorriso é cartão de visitas; é a tinta da primeira impressão; é porto, segurança e farol. E também é distimia. O poema de hoje foi escrito há muitos anos, mas em dias muito parecidos com os atuais.
Versão Original (Adolescência): Há dias essas lágrimas me procuram À minha tristeza toda tristeza estimula mas a dor em meu peito se dissimula sempre que as lágrimas se anunciam Eu não quero conter esse pranto Quero arrancá-lo e mim aos soluços mas algo contém quaisquer impulsos Algo segura a amargura em meu peito Ah, quero ao menos saber o motivo dessa malvada dor de que não morro, dessa torpe dor pela qual não vivo Então choraria todas essas lágrimas, me soltaria do medo em que me amarro e poderia expressar-me alguma estima. Versão Corrigida (25 anos depois): Há dias essas lágrimas me procuram À minha tristeza toda tristeza estimula mas a dor em meu peito se dissimula sempre que as lágrimas se anunciam Eu não quero conter esse pranto Quero arrancá-lo e mim aos soluços mas algo contém quaisquer impulsos, algo segura a amargura em um canto Ah, quero ao menos saber o motivo dessa malvada dor de que não morro, dessa torpe dor pela qual não vivo**?** Então choraria todas essas lágrimas, me soltaria do medo em que me amarro e poderia expressar-me alguma estima.
A diferença é sutil. Entre os poemas. Entre os sorrisos é difícil dizer. Um bom sorriso, bem ensaiado e bem posto, esconde muita dor. Não à toa os poetas escrevem sobre o circo e o tristíssimo palhaço que nos habita em algum momento. Em alguns talvez ele permaneça. Mas isso é assunto para outro momento. O que interessa hoje é mudança sutil na segunda e terceira estrofe do soneto. Eu tinha esse amor por sonetos no inicio da minha vida literária, mas, como autodidata, nunca me preocupei com muito com a métrica e sim com o sentido. Nesse caso creio que as mudanças promovem ligeiras alterações de sentido ao substituir a repetição da palavra peito por canto. Mas enfatizar o questionamento na estrofe 3 com um ponto de interrogação, para mim, soa mais drástico. Visualmente quase me incomoda. O que você acha? De qual versão você gostou mais? Sua adolescência era assim doída? Deixe seu comentário ou pergunta. Prometo responder.




