Fabulações
Sinta a melancolia e a beleza de "Fabulações", um poema sobre memórias, infância, solidão e a busca pela própria identidade em meio a um mundo de sonhos.
Oryanna Borges aos 10 anos.
As pedras que você pisa são meu jardim. Você não sabe, mas já fui princesa. O que me despertou trazia a fronte ornada de louros, numa mão a lamparina e na outra caramelos. Ensinou-me a achar tesouros na crista do dragão e trocou os chinelos pela melissa, para domar minha tiara de dentes de leão. Talvez por isso eu tenha pés pequenos para meu tamanho! Não soube ficar acesa depois que ele foi ter com os outros magos E era cedo para saber que lembranças podem ser afagos! E todo ano, à sua espera, nasciam espinhos em meus calcanhares e nós de cedro e pinho na garganta. Nunca fui bailarina. Tinha esse escuro de estar sozinha e o passo hesitante, receoso de ocupar espaço. E fui calçado outras sandálias. Não importava e ninguém queria ouvir que não eram minhas, que faltava espaço para mais um dedo e debaixo das talas brotavam calos e ervas daninhas. Mas eu era princesa de uma antiga linhagem de nobres, e o meu encanto durava o infinito do sonho. E aprendi a tingir e afofar com algodão qualquer tamanco medonho. Construímos torres sem prever seu uso e eu , que tinha esse escuro de estar quieta, me feri no fuso sem saber meu crime.
Fabulações já teve outros nomes e uma forma menor. Ao preparar Abyssalia, meu livro de poesia prestes a ser lançado, encontrei sua forma original em um caderno. Por razão que ainda não descobri tive vontade de postá-lo, interrompendo a reflexão acerca dos poemas da adolescência. Ele parece ter um vínculo que ainda não distingo claramente com esses poema, no entanto. Talvez esteja em um vislumbre de inocência. Ou seria este poema um testemunho de uma inocência preservada? Talvez a ilustração de Helena Queria o Chapéu tenha me contaminado de nostalgia .
A título de curiosidade, este é o que eu costumava considerar o poema pronto :
As pedras que você pisa são meu jardim. Você não sabe, mas já fui princesa. O que me despertou trazia a fronte ornada de louros, numa mão a lamparina e na outra caramelos. Ensinou-me a achar tesouros na crista do dragão e trocou os chinelos pela melissa, para domar minha tiara de dentes de leão. Talvez por isso eu tenha pés pequenos para meu tamanho!
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