Eros e Tânatos
Poema de 2009, escrito sob um plátano no passeio público. Um embate erótico entre pulsões. É o primeiro poema citado em TEA Menina, minha biografia de escritora, mulher, autista.
Náufrago em mim mesmo, a procuro.
Entre suas pernas o afogamento.
Esvazio aos arremessos
que a vida não se desprega num só rasgo,
não se desentranha na descarga
de um único orgasmo.
Há sempre um último deleite a ser tragado
E ela sabe.
Me recebe.
Me insere na argúcia estrutural da prosa,
na poesia cadenciada dos encaixes.
Adere dos ímpetos até os ossos,
seus feixes tecidos de névoa e mucosa.
E eu apenas falo, falo e falo
até desaparecer.
É quando ela se constringe,
fecha ao meu redor e secreta
o silencio absoluto.
Mas finge.
Sei de cor o repertório dos ardis
que enleia o embuste feminino
quando goza menos do que quis
Dissimulada desabrocha devagar,
desarvora aflitivos perfumes,
entreabre o corolário dos possíveis
e impregnado dos ungüentos do ciúme
sou assaltado novamente
por tudo que ansiava abdicar.
Resvalo para fora.
Ela não chora.
Ao afago oferta o calo, nunca o âmago.
Cumpre ocultar o desamparo. Me visto.
Guardo o estilete no bolso.
Retrátil acendo um cigarro. Degusto.
E ainda tenho o pulso de ostentar a marra
de quem só tirou um sarro
Sem palavra avanço.
Ela é como as outras:
quer tudo. E não me alcanço.


