É mera constatação da realidade
Um dos poemas que ficaram de fora de Abyssalia. Removi duas vezes, por considerar muito pesado. Mas nem por isso ele merece ficar escondido em uma caderno.
Foto: Oryanna Borges
É mera constatação da realidade o que conclama o verbo: você é Pobre. Começo a elevar-me com a pouca convicção que anseio transmutar em ato nobre. Longo o caminho principiado nesse júbilo em dar esmola e, no entanto, é nada comparado à miséria que te esfola. Meu orgulho pretendias pisoteado nunca nele pusestes os pés enquanto o teu é lacerado pelo meu olhar de viés a insinuar as funduras que temes tanto e as fendas abissais nas quais te afogas em próprio pranto Teus bens são fruto da luxúria sob a alcunha de matrimônio e a fundação da tua casa é a cauda do demônio. Vives na ilusão da opulência de outrora, cega para a decadência que vigora em cada quinquilharia que julgas adorno. Não vês? Em teu entorno a paga da velhacaria é a estagnação evidente nos teus estofados gastos e nos cetins desbotados como a tua cor em face de valores nefastos. És medíocre em teus paradoxos. Tens a idade dos anciãos que adoro e a vaidade das putas gratuitas que deploro. Acintosa caricatura de mulher, a enaltecer a traição e o aborto, desse teu corpo semimorto, escangalhado à tosse, tomará posse uma legião de transtornos endiabrados que assinalam a decrepitude do espirito, como escolhestes. Pela boca contraíste a peste cultivada em geladeira e requentada em panela suja, e pela boca disseminaste a devassidão e a rabuja. É por isso que eu te perdoo. Motivo falho, é certo. É fácil ser superior aos teus dotes de marafona e considerar-te punida em teu próprio inferno cafona.



