Caixa de Pandora
O corpo como caixa de ossos selada na carne. O corpo como receptáculo de males. E a sublimação na poesia.
Atinge-me às contorções sem ceder, e grunhe o ódio. Espuma da quina da boca ao riso. Não cessa sem que eu testemunhe o espetáculo Numa praça sento e fico. Nua ausência rasurada por todo olhar de esguelha que nota o nojo a revolver tecidos, e o descarta aos pombos Sem supor o asco das falanges retorcidas de um molambo a espremer o coração ou coisa que o valha, até a consciência plena! Eu? Eu, receptáculo Eu caixa de ossos, selada na carne que abafa o rugido e a lamúria que se segue. E assumo a compleição da matéria bruta a acolher golpes e propiciar revide sem lutar. Esgoto numa caixa forte sob a luz fraca que adentra as retinas um compêndio de deformidades, feto monstruoso. Houve tempo que ao seu apelo ofertava a morte. Comungava todos os horrores e nos estertores da besta vencida perecia. Mas de fora da miséria extrema, quando ela soluça me desperta a pena e riscos à parte lhe dou vida.



