Basta: O convite à luz de uma poesia que renasce
Uma pérola poética da adolescência, "Basta" é um grito contra o sofrimento e a escassez. Descubra a busca incessante por plenitude e liberdade que reside no DNA dessa obra inédita.
Basta Chega de obediente cultivar o sofrimento. É fácil, nesse mundo, alimentar a amargura. O coração humano resigna-se à tortura. Torna-se, então, cruel rotina o lamento. Chega de tornar esse volúvel ambiente tão propício ao crescimento da penúria. Basta de olhar a vida como uma injúria! Basta de tornar o mundo tão inclemente! Quero sentir o doce sabor da alegria, nem que toda a vida precise esmiuçar. E às palavras, a todo custo, hei de evitar que componham outra vez uma elegia. Quero mastigar a vida com volúpia e contemplar de novo o mundo incoerente, de coração depurado, leve, exuberante, impregnado de máximo prazer e magia. Renego o desalento, o pesar, a fantasia. Quero o confronto com diáfana realidade e emanar, explicitamente, plena liberdade para viver, viver, viver em demasia. Quero um fantástico mundo desconhecido nascendo unicamente para meus olhos, e sob meus pés um providente atalho para o deleite mais completo e desejado: Amor perpétuo, incondicional e absoluto. Quando, impregnado da essência, meu ser, se inevitável for, então, feliz morrer, com tais delícias agregadas ao meu espírito.
Um Grito Poético Contra a Resignação
Basta é mais um pérola de minha adolescência. Ao reler percebo uma resolução antiga de recusar uma vida de sofrimento onde tudo é escasso. Há uma negação direta do catecismo cristão ao qual fui submetida e que que prega a resignação ao sofrimento e à escassez do recursos mínimos para sobrevivência do corpo e do espirito. E, sobretudo, há uma espécie de direcionamento interno em busca de uma plenitude e de um significação maior da vida do que a subordinação a qualquer dogma ou convenção social poderia me proporcionar. Sinto que é como se essa busca estivesse em meu DNA, ou fosse parte de meu espirito, supondo que ele seja mais do que o aparato biológico.
Desta vez não senti desejo de mexer no poema. O caderno estava com anotações e instruções de correção, mas talvez eu não esteja inspirada hoje. Ou talvez eu simplesmente goste dele como está. É inédito. Nunca foi compartilhado em nenhum espaço virtual. Como parte da obra registrada como “ Retrato das sombras”, ele permaneceu nas sombras até hoje. Mesmo sendo um convite à luz. E agora esse convite finalmente parece pertinente. Me sinto pronta para “viver, viver, viver em demasia”.
Espero que esse poema inspire você leitor a fazer o mesmo.



