Adiamento
Hoje é o dia ideal para postar esse poema. Dia de crise. O que para mim é dia de enxaqueca, precedida de exaustão e permeada de choro. Eu não queria que o autismo precedesse a escrita.
Eu espero o amanhã. Hoje não. Hoje há medo espreitando-me a alma Hoje o trivial, a rotina. Amanhã o extraordinário, a vida que vale a pena. Hoje a carne flácida caída no lençol sujo não merece a glória da experiência plena desse amor ideal ou desse poder criador dando-me asas para alcançar a essência do que é matéria inerte e forma aparente. Hoje não. Hoje o choro contido como um segredo. Pois essa vida medíocre, é simples e previsível mas também mete medo, que é o medo do nada além de dia após dia viver um dia após outro esvaindo-me aos poucos numa resignada agonia. Amanhã! Amanhã quem sabe eu seja diferente. Hoje eu sou a minúscula e insignificante partícula da grande massa na qual posso sumir sem precisar pensar. Na qual posso me esgotar até o esquecimento da liberdade de sonhar, da maldição de querer o que não posso me dar. Hoje é melhor morrer sem precisar me matar. Morrer assim, calada sufocada no buraco do meu próprio não-ser ouvindo-me respirar.



