O diagnóstico tardio de TEA ( Transtorno do Espectro Autista) traz o autoperdão e ao mesmo tempo um severo escrutínio. Pelo menos para mim, afeita às ruminações. A diferenças destas ruminações para outras é um caráter de isenção. Me sinto livre para exercer o raciocínio analítico sem vistas à culpa. É apenas reconhecimento. Sou essa pessoa privilegiada que não tem apenas a memória para investigar. Meu passado está escrito em verso e prosa. Cada palavra é parcela de uma história. Cada encadeamento sonoriza uma melancolia, uma esperança, uma perplexidade, uma infinidade de estados de alma que evidenciam uma desconexão. “À sombra e à fumaça não cumpre criar raízes”, diz o verso no poema Não me importa o chão. Minha única conexão era a palavra e as hachuras sobre o papel . De algum modo eu devassava sombras e divisava a finitude com mais facilidade do que desenhava quando o escrevi.



