A PAZ DOS QUE SE SABEM FERAS
Tive muitos nomes. Escolhi Oryanna. Mudar não é fácil. Acolher a sombra tampouco. Mas não há nada mais literário do que o monstro que nos habita.
Não posso calar diante disso
ou daquilo que não incomoda
em absoluto a mais ninguém.
Não posso aceitar ser o caniço
que pensa que sabe que pensa.
Ou ser a mão que gira a roda
da fortuna de alguém
que não me sabe ou credita
o mérito de ser
Calar é tornar o erro perene
É olhar de pronto a cada tolo
que ainda me chama de Irene
Não posso. Eu sou mercúrio
armada do hermetismo
indevassável dos espelhos
que compõem meu catecismo
E sempre confiro os artelhos
para assegurar que estou certa
rezando que obsoletas
são as moneras.
E deito-me
na paz
dos que se sabem Feras



