A musa
Para fechar uma tríade, mais um hino à musa. Este escrito para a obra Perséfone em Hades, que é um misto de exercício poético exorcismo.
A musa
No princípio era o verbo o verbo se fez carne, leite,
terror. Fez-se o corpo estranho
no itinerário da voz, e o duplo
do silêncio, avesso inquiridor,
fez seu próprio mistifório.
Primeiro de seus arautos,
o tédio, notório realçador dos
limiares; demônio a precipitar
o coração poente, fez o escuro
sob a colcha, poscênio para
língua, esgares , impulsos.
O segundo, opúsculo, marketing
dando Bandeira e avulsos vates,
dando o Augusto saber da aurora
na morte do leiteiro e naufrágios
do gondoleiro do amor, e motivo
nos embates de Cecília
O embaraço cardado nas linhas
dessa cartilha fez-se retórica a
percutir o crânio e ressoar bigorna,
martelo, estribo. Encadeado ruído,
catalisador da chispa pictórica do
escárnio, solvente de mordaças.
E a sua voz de provocar delíquios
e romper couraças fez-se branca e
por fim prece ritmada, reza brava
ladainha. Consagrei sincrética
benesse, imolei as dores todas
e a sua cantiga fez-se minha.


