A Fábula que Me Escreveu: Como um Poema Revelou Minha Jornada
O poema que, de simples "fábula", se tornou um guia para transcender a realidade e encontrar o encantamento na vida.
Técnica mista ( lápis de cor e pintura com tintas naturais a base de plantas)
Preciso emergir e trazer a insanidade à tona para dar à realidade um leve toque de delírio. Minha alma, antes inocente agora insana manteve na transição esse desejo simplório: sitiar o mundo com anjos, fadas, gnomos… e toda magia inerte nas almas puras Achar o fabuloso escondido no que somos para tocar e enternecer todas as criaturas. Pelos olhares semear infinitas estrelas Pelos caminhos espalhar a flora multicolor e soprar no ar cantigas sobre sonho e amor E não mais contar as horas, mas vivê-las tomadas pela vida e pelo seu encantamento. E viver o sonho sem sonhar um só momento.
"Fábula" me parecia um poema infantil até a neurodivergência dar as caras. Agora, o vejo como uma ode à imaginação como força motriz para a transformação. É um convite ao questionamento da realidade, buscando o encantamento nas pequenas coisas. E também um desejo de plenitude, no qual o sonho não é apenas um devaneio, mas uma ferramenta para a transcendência pela imaginação e pela magia.
Pergunto-me o quanto a construção desses versos contribuiu para infundir e lapidar meu desejo de transformar o mundo, infundindo-lhe elementos fantásticos. Essa lapidação só alcançaria a forma e o brilho alquímico quando escrevi "Helena Queria o Chapéu", cerca de 20 anos mais tarde.
Talvez "Fábula" seja, de fato, um tanto pueril, e essa seja sua maior qualidade. Dizem que a infância é um terreno no qual pisamos a vida inteira, e ainda me esperam muitas deambulações por essas paragens. Estou certa de que poemas como "Fábula" foram capazes de preservar ternura e beleza, ainda que eu, como qualquer ser humano, tenda a lembrar com mais clareza da dor.
É bom poder compartilhar este soneto imperfeito que me descreve e me escreveu com perfeição, para que eu pudesse me reconhecer na hora certa. Há uma sincronia na existência que nos possibilita "viver o sonho sem sonhar um só momento".



