A Alquimia da "Subtração"
Um mergulho na metapoesia e em como a escrita pode ser uma função executiva para gerenciar o caos e a sobrecarga sensorial.

Subtração
É a melancolia que me sugere o verso
E a profundidade que lhe é propícia
Quando áspero, de modo inverso,
me traz o sossego de uma carícia
É a sensibilidade que me traz a rima
perfeita em sentido e melodia
Essa melancolia que os sons aproxima
e subtrai dos sentimentos a poesia Arte como Necessidade: A Função do Verso
“Subtração” é mais do que um metapoema — um poema sobre o próprio fazer poético. É o testemunho de uma ferramenta de sobrevivência encontrada intuitivamente.
Não sei quando, nessa janela entre os 14 e os 10 anos, o poema foi escrito. Mas a menina que o escreveu sabia-se em um limiar onde não há senão “melancolia”.Ao estabelecer “É a melancolia que me sugere o verso”, ela não está falando apenas de tristeza. Ela está descrevendo o peso de uma percepção de mundo fundamentalmente intensa, uma “sensibilidade” que capta a realidade com uma profundidade que chega a ser “áspera”. E que não reage no tempo certo. Mas ela não fez da sensibilidade uma fraqueza e sim uma espécie de suporpoder. Enquanto lia historias em quadrinhos desejando ser mordida por um inseto especial ou cair em algum tanque enguias genetcamente manipuladas ou numa dimensão desconhecida no tempo-espaço capaz de mudar sua constituiição humana, falha e fedorenta, nem imaginava que sobrevivia graças a um tipo de supperpoder: a sensibilidade aguçada que lhe permitia perceber padrões que outros não viam, “aproximar os sons” e encontrar a “rima perfeita em sentido e melodia”. E sabia que a palavra tem esse poder de reconfigurarr a realidade e tornar o mundo palatavel. “Quando áspero, de modo inverso, / me traz o sossego de uma carícia”: Este paradoxo é o coração do poema, pois revela a alquimia operante. A autoregulação por meio de uma gestão sonora do caos interior. O mundo e os sentimentos internos podem ser “ásperos”, mas o ato de escrever, de canalizar essa sobrecarga sensorial e emocional transforma o caos em ordem. A “carícia” é o sossego da autorregulação. É o alívio que vem ao pegar a nuvem caótica de estímulos e sentimentos e organizá-la em uma estrutura lógica e rítmica . Para uma mente que anseia por padrões o ato de criar um poema é profundamente calmante.
O título é a chave de tudo. A escrita, não é um ato de adição, mas de “subtração”. É o mecanismo vital de extrair a essência poética de sentimentos e estímulos avassaladores, como forma de organizá-los, processá-los e, finalmente, encontrar alívio.
Do Áspero ao Sossego: Poesia e Autorregulação
A palavra “subtração” ganha um peso matemático, quase literal quando o ato de escreverer pode ser percebido como capaz de extrair a essencia das coisas e ao faze-lo promove uma gestão da intensidade emocional.Esta não é apenas uma expressão artística; é uma função executiva desenvolvida intuitovamente, direto do olho do furacão. Sem o interesse especial na poesia esta alma teria sucumbido ao caos interno. Aquela menina estava, sem saber, estava usando a escrita para gerenciar a intensidade emocional e a sobrecarga sensorial. Ao “subtrair” a poesia, ela se livrava do excesso de “áspero” e criava o “sossego”do qual precisava. E quando o sossego era pouco criou mundos e narrativas como quem cria casulos nos quais se desenvolver e transformar. A arte não era um passatempo, mas uma necessidade. Era a ferramenta intuitiva que a autora encontrou para lidar com um mundo que ela percebia com uma intensidade “áspera”, usando a própria fonte dessa aspereza – sua “sensibilidade” – para criar beleza, ordem e, o mais importante, “sossego”.
Subtração, portanto, é a descrição de uma alquimia: a transformação do caos em conforto, e a prova de que, para alguns, a arte não é um passatempo, mas uma necessidade.


